Montavam-se
pilhas compostas de diferentes camadas de materiais orgânicos,
as quais, depois de algum tempo, eram revolvidas para
homogeneização da massa.
2 - O composto é uma novidade?
Não,
pois, empiricamente ele vem sendo preparado há milênios.
Tecnicamente, o composto vem sendo fabricado desde o início
do presente século, recebendo contínuos aperfeiçoamentos
na tecnologia de sua fabricação. O composto pode ser
fabricado (1) com restos existentes nas fazendas, (2)
com resíduos urbanos como o lixo e o lodo do esgoto e
(3) com resíduos industriais, como os de frigoríficos,
indústrias de conservas, de curtumes, da fabricação
do café solúvel (borra de café), de certas indústrias
farmacêuticas, etc.
3 - Como se prepara o composto de lixo domiciliar?
O
tratamento completo dos resíduos sólidos domiciliares
(lixo) compreende as seguintes fases: Recebimento do
lixo urbano, segregação ou triagem, para eliminação
de materiais inertes, como plásticos, vidros,
borrachas, metais não ferrosos, etc.; separação magnética
dos metais ferrosos; moagem (facultativo); digestão ou
fermentação em usinas especializadas; compostagem em pátios;
acabamento por moagem e peneiramento.
4 - O que vem a ser composto cru, bioestabilizado e humificado?
A
prática demonstrou que havia necessidade de se
classificar o composto de acordo com o seu grau de
fermentação. Assim, classifica-se como composto cru
aquele que está ainda em início de decomposição e é
danoso às sementes e raízes se colocado em contato com
elas. Antes de utilizá-lo, deve-se deixar curtir em
montes durante no mínimo 30 dias. Composto
bioestabilizado é o semicurado, que não mais causa
danos as sementes ou raízes quando em contato, porém,
ainda não é um perfeito condicionador do solo, pois
seu conteúdo em colóides é baixo; no solo, irá
continuar seu processo de cura, enriquecendo-se em húmus.
Composto humificado ou curado é o que sofreu um
processo completo de fermentação sendo o mais rico em
nutrientes que passaram da forma orgânica para a
mineral, assimilável pelas raízes e o com maior teor
de material coloidal, responsável pela sua capacidade
melhoradora do solo.
5 - Como se pode reconhecer, na prática, um composto curado?
O
reconhecimento se faz por um conjunto de observações.
Assim, por exemplo, a aparência deve ser de material
bem decomposto, onde com dificuldade se pode identificar
a matéria-prima original, como pedacinhos de papel, de
folhas secas, etc.; a coloração deve ser bem escura,
enquanto o composto cru é cinzento; o odor deve ser o
de terra mofada, enquanto o cru tem cheiro acre e
penetrante, a umidade deve ser baixa, com aspecto de
material seco, tendendo para produzir poeira quando
jogado a distância; se for possível determinar o pH
por meio de papéis ou líquidos indicadores, seu valor
deve estar acima de 7,0 preferivelmente, levemente
alcalino; um teste criado pelo autor e que dá uma boa
informação é o seguinte: Colocar uma pequena porção
de composto na palma da mão, encharcar com água,
trabalhando essa amostra com os dedos até tornar-se
pastosa; em seguida, esfregar o composto entre as palmas
das mãos, para obter uma massa aderente à pele das mãos.
Se o composto for rico em colóides, ficará nas palmas
das mãos uma espécie de "manteiga preta".
Lavando-se a mão em uma bacia a água tomará uma forte
cor negra. Se o composto não estiver humificado,
portanto, pobre em colóides não se formará a
"manteiga preta" nem dará coloração negra
forte à água da bacia.
6 - Matéria orgânica e húmus são sinônimos?
Não.
A expressão matéria orgânica refere-se aos materiais
de origem animal ou vegetal, como os encontrados no
lixo, por exemplo, podendo estar no estado cru ou em
diferentes estádios de fermentação, inclusive
parcialmente humificada. O termo húmus é reservado
para caracterizar a matéria orgânica que sofreu um
processo bioquímico de decomposição e deu origem a
uma fração coloidal, de constituição diferente da
matéria-prima original e capaz de proporcionar ao solo
melhoria em suas propriedades físicas, químicas e físico-químicas,
além de conter sais minerais que servirão de
nutrientes às plantas.
7 - O que vem a ser a relação carbono/nitrogênio de um composto?
A
relação carbono/nitrogênio, representada pelos símbolos
desses elementos químicos C/N, é um índice que dá
indicação se a matéria orgânica está na forma crua,
bioestabilizada (semicurada) ou humificada (curada).
Para se obter a relação C/N sempre se divide o teor de
carbono pelo de nitrogênio e o de nitrogênio passa a
ser representado pela unidade. Assim, por exemplo, a
palha de milho com 54% de carbono e 0,49% de nitrogênio
tem uma relação C/N igual a 110/1 (lê-se: cento e dez
para um); o sangue seco tem 48% de C e 12% de N, com
relação C/N igual a 4/1; a serragem de madeira e o
papel têm relação acima de 500/1. O húmus sempre tem
relação próxima a 10/1. Assim, todo material ao ser
humificado acabará com relação próxima de 10/1. Se a
relação da matéria orgânica é acima de 30/1, a
compostagem será mais demorada; se for abaixo de 30/1 o
tempo de compostagem será mais rápido; em ambos os
casos se diz que o composto está cru; quando pela
compostagem a relação for abaixando e alcançar o
valor entre 18/1 e 20/1, diz-se que o composto está
bioestabilizado ou semicurado; quando C/N for inferior a
12/1 ou igual a 10/1, o composto está humificado ou
curado.
8 - Qual é a densidade do composto?
Por
densidade aparente do composto (Da) entende-se a relação
ou divisão do peso (P) pelo volume (V) ocupado pelo
material em seu estado natural, sem compactar.
Suponha-se que um metro cúbico de composto pesou 500
quilogramas. Tem-se: Da = P/V = 500 ÷ 1000 = 0,5 (meio
quilo por litro ou meio grama por centímetro cúbico).
As variações das densidades dos compostos de resíduos
urbanos estão entre 0,2 a 0,8 (200 a 800 quilos por
metro cúbico, com uma média de 500 kg por m
).Inversamente, suponha-se que se quer saber qual o
volume de uma tonelada de composto cuja densidade é
0,4. Tem-se que V =P ÷ Da; substituindo, fica: V = 1000
÷ 0,4 = 2.5001itros (2,5 metros cúbicos). As
densidades elevadas apresentadas por certos compostos são
devidas à presença de contaminantes de alta densidade,
em relação à matéria orgânica, tais como terra,
vidros, louças, metais, etc.
9 - É importante a granulometria do composto?
Sim.
Quanto menor o tamanho de seus grânulos, maior é seu
valor agrícola. Um composto com constituintes
grosseiros tem muito material com suas partes internas não
completamente transformadas, sendo, proporcionalmente,
mais pobre em húmus coloidal.Na terra, a atividade do
composto se faz por fenômenos de superfície de exposição;
portanto, quanto mais se moe o composto mais se aumenta
o número de partículas, criando infinitas áreas de
contato com a terra e a água do solo. A experiência
tem demonstrado a superioridade do composto moído sobre
o grosseiro.
10 - O que é compostagem?
A
palavra é um neologismo de nosso idioma, tradução de
"composting", do inglês. Compostagem é um
processo de transformação de resíduos orgânicos em
adubo humificado. Dois estágios podem ser identificados
nessa transformação: o primeiro é denominado digestão
e corresponde à fase inicial da fermentação, na qual
o material alcança o chamado estado de bioestabilização,
onde a decomposição ainda não se completou, porém,
quando bem caracterizada, permite que se use o composto
como adubo sem risco de causar danos às plantas; o
segundo estágio, mais longo, é o da maturação, no
qual a massa em fermentação atinge a humificação,
estado em que o adubo apresenta as melhores condições
como melhorador do solo e fertilizante.
11 - Por que se deve fazer a compostagem dos restos orgânicos antes de usá-los como adubo?
Porque
os restos orgânicos, como o lixo cru, o esterco fresco
de animal, o lodo de esgoto, não fermentados, são
danosos às plantas quando usados assim ao natural. Após
a compostagem a matéria orgânica apresenta-se na forma
estável de húmus, capaz de acumular-se no solo e de
proporcionar-lhe as tão desejadas melhorias de suas
propriedades.
12 - Qual a importância de se fazer a compostagem da matéria orgânica antes
de empregá-la como adubo?
A
compostagem transforma a matéria orgânica crua em húmus.
Quanto maior a concentração em húmus apresentada por
um adubo orgânico, mais eficaz é sua importante ação
como melhorador do solo. O maior valor de um composto
reside na sua porção humificada. A matéria orgânica
crua, que não sofreu o processo de fermentação e
humificação, tem pouca eficiência como condicionadora
do solo e como fertilizante. O mesmo acontece com a
serapilheira que se encontra nas matas: as folhas mortas
que caem e estão na superfície da mata vegetal é um
material cru de pouco valor; no entanto, as folhas que
estão em baixo, junto ao solo, formando uma massa preta
que aos poucos vai se integrando na terra, são um
material de alto valor. Qual deles você preferiria usar
como adubo? As folhas secas ou as decompostas? O lixo
cru ou o compostado?
13 - Qual a vantagem de se usar como adubo os restos orgânicos já compostados?
A
vantagem é que no composto a matéria orgânica já se
encontra humificada, portanto, passará a agir,
imediatamente, como melhoradora do solo e como
fertilizante.Aplicando material cru, será necessário
aguardar que ocorra a estabilização antes de plantar
e, enquanto não se realizar a humificação, esse
material terá baixo valor como adubo.
14 - Durante a compostagem ou quando o adubo é aplicado no solo, havendo
condições favoráveis, como se multiplicam os microrganismos?
Os
micróbios benéficos, que provocam a humificação da
matéria orgânica e que geralmente já se encontram em
resíduos como o lixo urbano, multiplicam-se de maneira
inacreditável. Basta saber, por exemplo, que uma bactéria
dá duas em 20 minutos, quatro em 40 minutos e 8 em uma
hora. Assim, os micróbios existentes aos milhares em
poucos gramas de resíduos serão multilhões em poucos
dias. Um punhado de composto tomado entre as mãos pode
conter um número de microrganismo maior que a população
do mundo inteiro.
15 - Durante a compostagem ocorre alguma ação profilática sobre os micróbios patogênicos?
Sim.
A compostagem provoca um desenvolvimento populacional tão
grande que, preponderando na massa, reduz
consideravelmente a proliferação dos patogênicos. A
experiência já demonstrou que é possível fazer
composto com restos vegetais de tomateiros infestados e
usar esse adubo na cultura seguinte sem risco de infestação.
16 - Como é que se formam na compostagem os ácidos húmicos, os humatos
e demais componentes do húmus?
Esses
componentes são formados pelo ataque dos microrganismos
especializados, que transformam os restos orgânicos em
material humificado. Como resultado dessa transformação
biológica (feita por micróbios) a lignina e as
proteínas dos restos orgânicos se associam e formam
uma substância complexa denominada ácido húmico. Só
os microrganismos podem produzir o húmus. Nenhum
processo químico de laboratório ou industrial
conseguiu fabricá-lo. Os ácidos húmicos são
coloidais, isto é, partículas extremamente pequenas,
que podem se combinar, por exemplo, com o cálcio, o
magnésio, o potássio, dando os chamados humatos de cálcio,
de magnésio e de potássio, compostos que facilmente
liberam esses elementos para as plantas.
17 - O composto de resíduos domiciliares adquiridos pelo lavrador tem outra aplicação
além de adubo para ser empregado diretamente na terra?
Sim.
O agricultor pode utilizar o composto oriundo do lixo
para preparar novas quantidades de composto. Sabe-se que
para fabricar composto na fazenda são necessárias duas
diferentes matérias-primas: esterco animal, que é
denominado meio de fermentação e palhas, capins,
cascas e outras sobras de culturas, chamados restos
vegetais. Acontece que os restos vegetais são de difícil
fermentação se não forem mo- culados com um material
mais rico em nitrogênio e contendo microrganismos, como
é o caso dos estercos animais e do próprio composto de
lixo. Assim sendo, em propriedades agrícolas onde há
muita sobra de resíduos palhosos e poucos animais para
produzir esterco para ser juntado a essa grande massa de
restos vegetais, recomenda-se usar como meio de fermentação
o composto adquirido nas usinas de compostagem de lixo.
Para se fabricar o composto na fazenda, fazem-se pilhas
com 3 a 4 metros de largura por 1,5 a 1,8 metros de
altura e por comprimento indeterminado. Ao montar a
pilha, distribui-se uma camada de 15 centímetros de
restos vegetais pela área acima referida; sobre essa
camada de material de difícil fermentação
distribui-se outra de composto, que é de fácil
fermentação, na espessura de uns 5 centímetros;
esparrama- se em seguida nova camada de restos e sobre
ela outra de composto, assim alternando até atingir a
altura recomendada. Se o material estiver muito seco,
convém irrigar ao montar a pilha. Revolvendo o monte
algumas vezes, dentro de 60 a 90 dias o composto estará
pronto.
18 - Os solos do Estado de São Paulo são ricos em matéria orgânica?
Não.
Cerca de 60% da área do Estado possui terras com baixos
teores de matéria orgânica. Cerca de 33% da área é
de terras com médio conteúdo e apenas 7% das terras do
Estado de São Paulo apresentam teores altos de matéria
orgânica. Convêm lembrar que estes 7% de terras com
altos conteúdos de matéria orgânica estão situados
em locais de altitude elevada e topografia acidentada,
onde a agricultura se torna mais difícil.
19 - As terras cultivadas estão perdendo sua fertilidade natural?
Sim.
A produtividade das terras dos países ricos e
desenvolvidos está aumentando graças ao uso crescente
dos fertilizantes minerais. A fertilidade natural dessas
terras, no entanto, como prova o pesquisador DHAR, está
decrescendo, devido a vários fatores, entre eles a
perda constante de matéria orgânica. Em abono dessa
afirmação está o fato de o teor de matéria orgânica
do solo ser usado como um índice de sua produtividade.
20 - Qual é a recomendação que se faz para melhorar a produtividade de uma terra?
Se
o solo apresentar reação ácida, com alto teor de alumínio,
é aconselhável proceder-se, primeiramente, a uma
calagem, 30 a 60 dias antes de aplicar os adubos orgânicos
e mineral e de plantar. A calagem dá aos solos melhores
condições para uma rápida multiplicação dos
microrganismos contidos o composto; fornece cálcio aos
microrganismos; provoca a reativação das enzimas
absorvidas na argila, nos sesquióxidos e no húmus. Não
misture calcário com o composto, pois, conforme seu
estado de decomposição, pode perder nitrogênio por
desprendimento de amônia (caracterizado pelo cheiro de
amoníaco). É importante lembrar que a produtividade
depende, além da aplicação correta dos adubos na época
certa, no local adequado e nas doses necessárias, de água
suficiente para a planta e das condições físicas do
solo.
21 - Os microrganismos existentes no composto orgânico têm alguma ação quando
são levados ao solo pelas adubações?
Sim.
Os microrganismos que o composto introduz na terra são
verdadeiros "operários gratuítos" que
podem "lndustrializar" adubos e partir de
minerais insolúveis existentes no solo ou de matéria
orgânica rua.
Um hectare de terra com 2% de húmus tem o
correspondente a 12,5 toneladas de sulfato de amônio;
2,5 toneladas de superfosfato simples e 1,2 toneladas de
enxofre (SWABY).
22 - O uso do composto orgânico nas terras de cultura tem alguma contra-indicação
ou intolerância para as plantas?
Não
há nenhuma contra-indicação ou intolerância. O
composto é recomendado para culturas intensivas, como a
das hortaliças, dos viveiros de flores ou de mudas,
para jardins e vasos de ornamentação: para culturas
extensivas, como as de café, cama, algodão, milho, os
pomares e as pastagens.
23 - A matéria orgânica contida nas terras de cultura é uma fonte de nutriente para as plantas?
Sim.
A única forma com que o solo pode armazenar nitrogênio
é a orgânica. Cerca de 98 até 100% do nitrogênio
encontrado nos solos estão na forma orgânica; o nitrogênio
na forma nítrica não é retido pelo solo sendo lavado
pelas águas das chuvas; cerca de 80 a 100% do enxofre
do solo está na forma orgânica e 60 a 100% do fósforo
também. O nitrogênio da matéria orgânica e responsável
por 97% da produção mundial de alimentos, sendo que 3%
apenas é atribuída a todo nitrogênio levado ao solo
pelos fertilizantes minerais.
24 - O composto orgânico é essencialmente um melhorador do solo? O que é um melhorador
ou condicionador do solo?
É
um material que tem a particularidade de, como o próprio
nome está indicando, melhorar as propriedade físicas,
químicas e físico-químicas da terra. Os melhoradores
do solo são de origem orgânica. Consequentemente,
nenhum fertilizante mineral age como condicionador da
terra. Todas as tentativas para fabricar condicionadores
sintéticos falharam por serem anti-econômicos.
25 - O uso do composto dispensa o emprego de fertilizantes minerais?
Os
experimentos têm sempre demonstrado que os melhores
resultados são obtidos quando se associam as adubações
orgânicas com as minerais. Sabe-se que o composto
"aduba" o solo e a planta, isto é, melhora as
propriedades do solo e fornece nutrientes às raízes.
No entanto, o composto é um adubo de balanceamento
definido, ou melhor explicando: enquanto se pode comprar
fórmulas de fertilizantes minerais com maior ou menor
porcentagens de nitrogênio, fósforo e potássio, o
composto tem uma composição fixa, sendo sempre mais
rico em nitrogênio em relação ao fósforo e ao potássio.
Para enriquecê-lo nesses dois nutrientes, aconselha-se
acrescentar fosfato de rocha e cinzas vegetais antes da
compostagem, ou superfostatos e cloreto ou sulfato de
potássio, se o composto já estiver pronto.
26 - O que são e como se formam os microagregados do solo?
Os
microagregados do solo são os pequenos agrupamentos de
partículas responsáveis pela manutenção da boa
estrutura de uma terra. Os microagregados são formados
pela complexação dos três seguintes componentes: partículas
de argila, metais polivalentes (como o cálcio, o magnésio
e o ferro) e colóides orgânicos como os contidos no
composto. É importante que esses microagregados sejam
estáveis, não se desfaçam facilmente; a estabilidade
dessa agregação é garantida pelo fato de certos colóides
do composto exercerem suas ações cimentantes ocupando
a parte central do microagregado, de maneira que nessa
posição de tornam inacessíveis aos microrganismos,
que poderiam mineralizar esses agentes cimentantes orgânicos
desfazendo a agregação.
27 - Como o composto pode melhorar a estrutura do solo?
"A
estrutura de um solo é a chave de sua fertilidade"
(L. D. BAVER). O composto pode melhorar a estrutura
direta e indiretamente. Diretamente, agindo como agente
cimentante das partículas do solo para formar os tão
desejáveis agregados, unidades que darão formação às
estruturas. Indiretamente, promovendo o aumento
populacional dos microrganismos, os quais por meio de
suas secreções, seus filamentos e suas carcaças,
promovem a agregação das partículas que irão se
agrupar para formar os diversos tipos de estrutura.
28—O composto como condicionador do solo é importante para melhorar
sua estruturação?
A
importância da estruturação é fácil de ser
confirmada: um solo de mata virgem , com alto teor de
matéria orgânica ao ser revolvido, apresenta-se rico
de granulações (agregados); uma terra cansada é pobre
de agregados (mal estruturada). O emprego sistemático
de composto orgânico melhora a estruturação devida
aos materiais aglutinantes coloidais que possui, como os
ácidos uronídicos, os quais cimentam as partículas
formando agregados estáveis, responsáveis pela
estruturação do solo.
29 - O húmus do composto liga-se com algum componente do solo?
No
solo, o húmus combina-se com o componente argila,
formando os chamados complexos coloidais ou complexos
argilo-húmicos. São estes complexos que cimentam as
partículas do solo, provocando sua estruturação, que
retém elementos nutrientes das plantas, como o potássio,
o cálcio, o magnésio, o nitrogênio amoniacal evitando
que sejam lavados e cedendo-os às raízes das plantas
facilmente.
30 - Qual a importância do aumento da aeração do solo pela aplicação
sistemática de composto?
As
raízes das plantas, com exceção das aquáticas e
outras poucas, não conseguem viver na ausência do ar.
Quando se irriga por inundação um arrozal, por
exemplo, verifica-se que dentro de certo tempo a cultura
começa a ficar com coloração verde amarelada, por
falta de ar para as raízes. A pesquisa já demonstrou
que solos cujo ar apresenta concentração em oxigênio
inferior a 10%, não permite o desenvolvimento de raízes.
O composto, pelo fato de contribuir para a estruturação
do solo, torna-o mais solto, mais arejado, eleva o conteúdo
de oxigênio disponível às raízes.
31 - Qual o efeito do composto na consistência do solo?
O
composto torna a terra mais solta (friável), mais
porosa (arejada) e mais leve (menos densa); as terras
friáveis são mais fáceis de serem aradas e os torrões
se desfazem melhor ao serem gradeadas; as raízes
caminham com mais facilidade e encontram mais ar à sua
disposição. Uma terra rica de matéria orgânica é
menos dura quando seca e menos plástica ou pegajosa
quando molhada.
32 - A compactação das terras de cultura pelo uso de certas máquinas agrícolas
e pelo manejo incorreto tem provocado queda da produtividade. O composto pode
contribuir para o controle da compactação?
Sim.
O composto, como outras matérias orgânicas se usadas
sistematicamente como adubo e condicionador do solo, dá
à terra uma certa elasticidade. Assim, passando sobre
tal solo uma máquina pesada, ele se comprime mas tem a
tendência de retomar a forma primitiva, resistindo mais
à compactação que igual solo sem matéria orgânica.
Quem já caminhou sobre um solo turfoso sentiu como ele
reage de maneira elástica ao ser pressionado.
33 - O composto facilita o desenvolvimento das raízes das plantas?
Sim.
O composto, como toda a matéria orgânica juntada ao
solo, torna-o menos compacto, facilitando o caminhamento
das raízes. Lembrar que as raízes crescem
insinuando-se nos vazios existentes na terra. O composto
quando aplicado em um solo baixa a sua densidade
imediatamente, pois a densidade da terra é, em média,
de 1,2 a 14, enquanto a do composto é de 0,4 a 0,6
g/cm3. Na natureza, o desenvolvimento das raízes devido
à presença da matéria orgânica é fácil de ser
constatado, observando que na parte superficial do solo,
onde existe mais matéria orgânica, é também onde se
observa maior quantidade de raízes.
34 - O nitrogênio na forma orgânica, principalmente encontrado no composto,
é assimilado diretamente pelas plantas?
As
raízes das plantas assimilam o nitrogênio na forma
amoniacal (NH4) ou nítrica (NO3); portanto, o nitrogênio
orgânico necessita ser mineralizado para ser
assimilado, o que é uma vantagem, pois o solo pode
armazenar esse nutriente na forma orgânica. Experiências
recentes, utilizando material radioativo, demonstraram
que as raízes também podem absorver certo materiais
orgânicos como os aminoácidos, sem necessidade de que
microrganismos os desdobrem previamente.
35 - Quais os principais requisitos para se instalar viveiros de flores ou
hortas em torno de uma cidade de forma a constituir um "cinturão verde"?
Todos
os viveiristas e horticultores sabem muito bem da
necessidade de abundância de água e adubo orgânico
para tais empreendimento. O composto preparado pelas
Prefeituras Municipais a partir do lixo proporcionará a
indispensável matéria orgânica para instalação do
cinturão verde, além de adubo para seus parques e
jardins.
36 - Por que no Brasil não se utiliza maior quantidade de adubos orgânicos
em nossas lavouras?
No
Brasil não há maior utilização porque os
agricultores ainda não se conscientizaram do importante
papel que desempenham os adubos orgânicos.
Consequentemente, também não se criou a tradição do
uso do composto e outros adubos, como acontece, por
exemplo, na China, onde a estatística mostra que mais
de milhão de toneladas em nitrogênio , mais de um
quarto de milhão de toneladas de fósforo e mais de
meio milhão de toneladas em potássio são anualmente
incorporadas às terras na forma de adubos orgânicos.
37 - O composto reduz a insolubilização dos fosfatos dos fertilizantes minerais,
em solos ricos em óxidos de ferro e alumínio?
Sim.
O composto reduz a chamada fixação dos fosfatos solúveis
que são aplicados como adubo e que em solos contendo
altos teores de óxidos de ferro e alumínio se tornam
insolúveis, não assimiláveis pelas raízes das
plantas. Essa é uma das razões, pelas quais se admite
que o fósforo das adubações fosfatadas é aproveitado
pelas plantas no primeiro ano, apenas de 20 a 30%, em média,
do total aplicado. Misturando o superfosfato de cálcio
com o composto, antes de aplicá-lo em terras ricas em
sesquióxidos de ferro e alumínio, estar-se-á evitando
a insolubilização do fósforo.
38 - E recomendável usar o composto junto com os adubos minerais?
Sim.
A associação composto com fertilizantes minerais é
vantajosa, pois o adubo orgânico pode reter certos
nutrientes do fertilizante mineral contra a lavagem
pelas águas das chuvas que atravessam o perfil do solo.
Essa retenção é realizada nos solos pela argila e
pela matéria orgânica. Em média, nos solos do Estado
de São Paulo, ficou demonstrado que a matéria orgânica
c responsável por 50 a 70%o dessa retenção Em solos
arenosos, como de certos cerrados, pobres em argila, a
retenção dos nutrientes fica a cargo quase que só da
matéria orgânica existente OU a eles adicionada. Outra
razão de se combinar as adubações orgânicas com os
minerais é pelo fato do húmus, segundo experimentos de
CHAMINADE, aumentar a absorção do fósforo e do potássio
pelas raízes das plantas.
39 - O que é o poder quelatante da matéria orgânica do composto?
Poder
quelatante ou pinçante é a propriedade que o húmus
possui de reter certos nutrientes, sequestrando-os sem
combinar-se quimicamente com eles. porém, impedindo que
sejam arrastados pelas águas das chuvas. Contudo. o
elemento sequestrado fica em forma assimilável pelas raízes.
O pesquisador norte-americano ALLISON é de opinião que
um dos papeis mais importantes realizados pela matéria
orgânica no solo é a de formar quelatos com certos
micronutrientes como o zinco, o cobre e o ferro,
garantindo as necessidades alimentares das culturas.
Assim, por exemplo, o ferro do solo está geralmente na
forma de óxidos insolúveis, não assimiláveis pelas
plantas. O composto solubiliza o ferro. seu quelato
aprisiona-o na forma catiônica e o cede as raízes.
40 - O composto e outros adubos orgânicos tem papel importante como
fonte de nitrogênio na produção mundial de alimentos?
Segundo
DHAR, o aumento da produção agrícola pela adição de
fertilizantes minerais nitrogenados tem-se mostrado
maior do que a obtida com o emprego do fósforo ou do
potássio. A produção mundial de fertilizantes
nitrogenados, porém, é presentemente cerca de trinta
vezes menor do que a necessária para suprir as culturas
do mundo. Consequentemente, é o húmus do solo que está
suprindo as culturas de todo o mundo. E, para que esse húmus
não se esgote, é necessário evitar sua perda por erosão
e restituir ao solo a matéria orgânica dele removida.
41 - O composto é classificado como melhorador do solo ou como um adubo?
O
composto é, acima de tudo, um condicionador do solo,
assim classificado pelo fato da sua matéria orgânica
humificada estar em maior proporção cerca de 40 a 70%
No entanto, além do efeito condicionador ou melhorador
do solo, o composto e também classificado como um
fertilizante de baixa concentração em nutrientes, razão
pela qual são sempre empregadas doses elevadas,
geralmente acima de 10 toneladas por hectare. A
concentração em nitrogênio, fósforo e potássio
(N-P-K) está, em média, entre 3 a 4%. O adubo contém,
ainda, cálcio, magnésio e enxofre, além dos
micronutrientes, tais como: zinco, boro, cobre, ferro,
manganês, molibdênio e cloro.
42 - Como deve ser armazenado o composto?
Se
o agricultor não vai usar o composto logo, é preferível
armazená-lo debaixo de um rancho ou no próprio campo,
cobrindo a pilha com palhas ou galhos com folhas para
proteger do sol e do excessão de chuva, a qual deixaria
o adubo molhado e mais trabalhoso para ser distribuído
na terra. O composto cru ou semicurado deve ser guardado
em montes com alturas máximas de 1,50 a 1,80 metros,
enquanto que o composto curado, que não mais se aquece
quando empilhado, pode ser armazenado com alturas
maiores.
43—Como se planeja a distribuição do composto no campo?
Para
evitar que se aplique mais adubo em uma parte do campo e
falte para outra parte. recomenda-se fazerem se muitos
montes iguais dispostos em vários pontos do terreno.
Distribuindo depois cada um desses montes pela área que
o circunda, tem-se a certeza de que toda a terra de
cultura receberá uma mesma dosagem de adubo. Ao se
iniciar a distribuição, se houver ventos, lembrar que
sempre o operário deve caminhar tendo o vento soprando
pelas suas costas ou lateralmente. Nunca caminhar contra
a direção do vento.
44 - Quais as maneiras de se distribuir o composto nas culturas?
O
composto pode ser assim distribuído:
1-
a lanço, aplicado por toda a superfície da terra,
transportando-o em uma carroça ou carreta e jogando-o
com pá; ou utilizando distribuidora própria para
estercos ou para calcário.
2
- no fundo do sulco: nas culturas em linha, abrindo-se o
sulco com sulcador ou arado e depois jogando com pá o
adubo transportado em carroça ou carreta.
3
- em covas: quando se vai instalar uma cultura
permanente, como os cafezais, os pomares, os
florestamentos ou reflorestamentos, a melhor
oportunidade para se empregar um adubo orgânico é no
fundo da cova, misturado com a terra
4
- em coroa: distribuído em volta da árvore, formando
uma faixa afastada do tronco e não além da projeção
da sua copa, devendo em seguida incorporar levemente a
terra.
45 - Onde deve ser localizado o composto em relação à planta ou semente?
O
composto quando estiver garantidamente bioestabilizado
(semicurado) ou melhor ainda, humificado (curado), pode
ser colocado junto com a semente ou a mudinha, sem risco
de causar dano. Ao composto cru aplicado na terra só se
pode semear ou plantar depois de 20 a 30 dias. Os
fertilizantes químicos não devem entrar em contato
direto com as sementes ou raízes. Quando misturados com
o composto, este adubo orgânico evita danos às
sementes e raízes. A melhor localização para os
adubos orgânicos ou químicos c logo abaixo ou abaixo e
um pouco ao lado das sementes ou raízes.
46 - Quando se deve adubar?
Os
técnicos dividem a época da adubação em vários períodos:
na ocasião do plantio, isto é, junto com a semente ou
com a muda que está sendo transplantada; é a chamada
adubação fundamental; a outra época é quando se
inicia o crescimento mais intenso da planta ,
distribuindo-se o adubo na superfície do solo, ao longo
da linha de cultura ou em torno da muda e incorporando-o
ou não incorporando à terra; é a adubação de
cobertura; finalmente, há ainda as adulações que se
fazem nas plantas adultas, geralmente em culturas
perenes, adubando-se na época das chuvas ou quando se
fazem capinas ou outros tratos culturais, aplicado em
sulcos abertos ao lado da linha de cultura ou distribuído
pela superfície e incorporado ou não à terra; é a
chamada adubação de manutenção da fertilidade.
47 - Quais as dosagens recomendadas?
As
dosagens variam com a quantidade de composto disponível,
com o tipo de terra, com a cultura
e aadubação pretendida. De maneira geral, podem
ser recomendadas as seguintes doses:
Para
culturas anuais, no fundo do sulco de plantio, as
quantidades mínimas são:
—terras
fracas, 10 t/ha
—terras
médias, 5t/ha
Paraculturaperenes:
—no
plantio, por cova, 10 a 20 litros
—em
planta adulta, em coroa, por pé, 10 a 20 litros
—em
pastagens, em cobertura, mínimo de 5 a 10 t/ha
Para
hortas e viveiros:
—na
cova, I /2 a 1 litro por cova
—no
canteiro, 10 a 20 litros por metro quadrado
Lembrar
que, empregando-se composto curado, pode ser juntado à
semente ou muda; composto cru não deve ter contato
direto com sementes ou raízes; composto de segunda, que
contém maio quantidade de material inerte, também
chamado de contaminante, é mais recomendado para aplicação
em fundo de cova, no plantio de mudas.
48 - Há muita diferença entre distribuir o composto na superfície
sem incorporar à terra e incorporando?
Sim.
Os experimentos demonstraram que o esterco pode, dentro
de sete dias após ser distribuído pela superfície do
terreno, em condições desfavoráveis de muito calor e
vento perder até 50% do total do nitrogênio nele
contido. Considerando que o composto e um adubo
semelhante ao esterco, dele diferenciando por ter sido
preparado a partir de outras matérias-primas para se
obter o mesmo húmus, compreende-se a necessidade de se
incorporá-lo à terra logo após sua esparramação no
campo, pois 25% do nitrogênio podem ser perdidos em
doze horas.
49 - Há algum experimento feito no Brasil com o composto de resíduos domiciliares (lixo)?
Sim.
Os realizados pelo Departamento de Solos, Geologia e
Fertilizantes, da Escola Superior deAgricultura
"Luiz de Queiroz", da Universidade de São
Paulo, demonstraram entre outras coisas, que:
1
- o composto cru é inferior ao que sofreu o processo de
compostagem;
2
- que as doses de 5 toneladas por hectare são
insuficientes para aumentar a produção;
3
-as doses de 10 toneladas por hectare garantiram um
aumento da produção sendo esta superada pelas doses de
20 t/ha;
4
- nos solos arenosos e na cultura do feijão, mais uma
vez foi demonstrado que o adubo orgânico é mais
eficiente que no solo argiloso e com uma planta da família
das gramíneas, como o arroz.
50—O composto aplicado como adubo tem efeito residual favorável na cultura seguinte?
Sim.
O composto aplicado como adubo beneficia a cultura do
ano como, em menor escala, as que se fizerem
posteriormente . Os experimentos em vaso realizados pelo
Departamento de Solos, Geologia e Fertilizantes da
Escola Superior de Agricultura "Luiz de
Queiroz", da Universidade de São Paulo,
demonstraram que em solo arenoso houve um melhor efeito
residual do composto que no solo argiloso; também, o
feijão aproveitou melhor esse efeito residual do que o
arroz. O experimento vem confirmar a sabedoria popular
dos agricultores europeus e asiáticos, de que os adubos
orgânicos devem ser usados a longo prazo, pois seus
efeitos são cumulativos, melhorando as propriedades físicas
do solo e fertilizando as culturas. |